O baobá é uma árvore da flora africana. É do alto de sua copa que observaremos o que se publica em nosso país sobre este vasto e complexo, rico e desconehcido continente. Se esse tema é do seu interesse, galgue esta robusta árvore e venha partilhar esta visão privilegiada.

sábado, 4 de setembro de 2010

A imagem da África na Folha de São Paulo

Nesta semana, quando decidi retomar os trabalhos de observação da nossa frondosa árvore, acontecimentos de grande monta sacudiram Maputo, capital de Moçambique. O Estado de São Paulo e o O Globo reproduziram a mesma notícia, sobre aqueles acontecimentos, fornecida pela Reuters. Em outra reportagem, O Estadão divulgou fotos que demonstravam a seriedade dos confrontos. Os exemplos aqui destacados são apenas ilustrativo do procedimento jornalístico da grande imprensa nacional: reprodução automática das agências internacionais. Curiosamente, sem informar de qual agência retirara sua notícia, A Folha de São Paulo reportou um clima de convulsão social, com ex-combatentes, "da guerra civil que assolou o país após a independência de Portugal" (certamente se tivesse continuado colônia portuguesa a região não seria assolada como foi), ameaçando desencadear novas manisfestações. A Folha chegou a nos dar a inusutada informação de que um dos motivos das manifestações era o aumento do preço do pão, "um produto essencial na dieta local." Certamente para os leitores da Folha, os moçambicanos de Maputo têm o hábito de comer lagartos... Enquato isso, nos telejornais, nem uma frase!

O evento referente aos casos de estupros no Congo (infelizmente não consegui localizar o site oficial), coberto pela BBC, foi publicado ipsi literis tanto pela Folha, como pel'O Globo e pel'O Estadão. Este último, em vôo solo no tocante aos outros dois jornalões, mas com a Assiciated Press, noticiou ainda os confrontos violentos ocorridos na Somália esta semana. Houve também, uma pequena divulgação a respeito das declarações de Jacob Zuma, presidente da África do Sul, sobre o desejo do seu país ingressar no BRIC, divulgado n'O Globo.

O leitor deve ter notado que nesta semana a Folha de São Paulo fez muito pouco caso das notícias sobre o continente africano, para dizer o mínimo. Se considerarmos as observações implicitas nas notícias sobre Moçambique, vemos que o jornal dos Frias segue conservando a perspectiva colonialista, não que isso seja diferente nos demais órgãos da grande imprensa nacional. O pior da Folha, entrentanto, não foi o artigo sobre Moçambique, mas a forma debochada em seu caderno cultural, em que analisa os projetos artísticos realizados em Angola, com vistas a mudar as imagens negativas que circulam no mundo sobre a África. Neste sentido, o artista plástico angolano Kiluanji Kia Henda definiu a estratégia como "afro-futurismo", ou seja, uma "ficção científica feita na África por africanos". Entretanto, para o jornalão, o que eles estão fazendo é tentar "digerir o passado sem saber imaginar um futuro". Em sua análise, a Folha afirma ser difícil "imaginar ficção científica num país onde água tratada e energia elétrica ainda são coisas de elite". A despeito dos problemas presentes na sociedade angolana, é preciso que antes olhemos para os problemas internos, como os relativos à falta de água em São Paulo, maior e mais rica cidade do país que é a oitava economia mundial.

O artigo da Folha de São Paulo é uma peça depreciativa da tentativa de transformação angolana e culmina ironizando a declaração do fotógrafo luandense Claudio Rafael de que sua geração "tem a obrigação moral de criar novos padrões estéticos." Para a Folha é por isso que o fotógrafo nunca fotografa Luanda, uma vez que "seus modelos são quase sempre brancos, posando em estúdios imaculados, que em nada lembram os becos e vielas encardidos de sua cidade." Sobre o mimetismo performado por populações negras-colonizadas face a colonizadores-brancos, Frantz Fanon e Albert Memmi já escreveram com muita profundidade, tornando superficiais e distorcidas as afirmações da Folha. Mais uma vez houve uma significativa falta auto-critica, pois no caso de reinvenção da nossa identidade, na Semana de Arte Moderna, Macunaima buscara inspiração no mito das três raças de Von Martius.

O pior é que o jornalista, que parece ser o autor deste artigo, foi convidado para cobrir a Trienal de Luanda, evento cultural onde onde os idelizadores da tentativa de mudar as respresentações sobre a África possivelmente exporão sua nova tendência.

Felizmente a Revista Raça, que não sei se pode ser denomida como um órgão da grande imprensa brasileira, noticiou a pujança das HQs Africanas, motivo de alguma esperança para os leitores brasileiros interessados em notícas culturais, política e econômicas do continente africano.

Por hora, fico por aqui, afinal não é possível abordar tudo o que tenho vontade. Mas a vigilância de cima da frondosa árvore continuará. Até a próxima semana.

PS: Tentarei divulgar a próxima postagem semanal mais cedo.

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