O baobá é uma árvore da flora africana. É do alto de sua copa que observaremos o que se publica em nosso país sobre este vasto e complexo, rico e desconehcido continente. Se esse tema é do seu interesse, galgue esta robusta árvore e venha partilhar esta visão privilegiada.

domingo, 22 de abril de 2012

O Imperio Songhai e outras palavras

Aos leitores devemos explicações. No sábado anterior a ontem, 14.04.2012, foi exibido na Radio Muda o programa África Livre, cujo tema foi o Império Songhai. Como este escrevivinhador divide-se entre várias atividades, há momentos em que uma delas sobrecarrega a divisão do tempo, sobrepondo-se às demais. Foi assim na última semana. Uma das dimensões sobrepôs-se às demais, acachapando-as! E embora tenha conseguido apresentar o programa semanal, não pude fazer a divulgação que tanto me apraz.

Ontem, o programa não foi ao ar por ter ocorrido problemas técnicos na Radio Muda. O que dizer agora? Que para compensar tudo isso, o Olhando do Baoba está trazendo algumas modificações. Se o leitor notar, no lado direito do blog, dispus um novo campo denominado Africa Livre links, espaço onde é possível acessar cada um dos podcast dos programas que já foram ao ar e que estão hospedados no Na Lupa. Dois avisos aos navegantes faz-se necessário: por causa dos problemas técnicos de ontem, não teremos um podcast esta semana. Além disso, próximo sábado tampouco haverá programa, por ser um dia importante para aquela que adoça os dias deste que vos escreve! Neste caso, vai ser a dimensão do companheiro que acachapará todas as outras. Contudo, peço paciência ao leitor, para esperar mais quinze dias e voltarei com força total.

Sonni Ali

Por ora, deixemos de delongas e adentremos ao assunto do último programa! O Império Songhai foi o maior Estado da África ocidental e teve seu apogeu entre os séculos XV e XVI. O império recebeu o mesmo nome de seu principal grupo étnico, os songhai. No início do século XV, o Império do Mali começou a declinar. As disputas pela sucessão enfraqueceram a coroa e muitos afastaram-se. O Songhai foi um deles, fazendo de Gao uma cidade proeminente e capital do Novo Império.

Askia Muhammad I

O primeiro imperador de Songhai foi Sonni Ali Ber, que reinou por volta de 1464 a 1493. Como os reis de Mali, Ali era um muçulmano. No final de 1460, ele conquistou muitos dos estados vizinhos do Songhai, incluindo o que restava do Império Mali. Sonni Ali rapidamente se estabeleceu como o mais formidável estrategista, militar e conquistador do Sahel. Ele anexou a cidade de Tombuctu – centro intelectual da região – em 1468, depois que os líderes islâmicos desta solicitaram a sua ajuda para expulsar os tuaregues que haviam tomado a cidade após o declínio do Mali. Já a conquista de Jenné foi mais difícil. Ali só conquistou esta rica e bela cidade depois de um cerco persistente de sete anos, incorporando-a ao seu vasto império em 1473. O sucessor de Ali, Askia Muhammad I, ampliou e fortaleceu o império, tornando-no o maior Estado na História da Africa ocidental. A padronização de regras para as relações comerciais e uniformização do sistema de impostos foram medidas estabelecidas em seu reinado.

Tumba de Askia

Gao, Tombuctu e Djenné eram importantes centros urbanos da região. A primeira, como já vimos, foi a sede política do Imperio Songhai. A segunda, um centro onde o conhecimento borbulhou durante muitos séculos. A terceira, um dos mairoes centros comerciais da região. Gao era um importante entreposto para caravanas  e tornou-se num dos mais importantes centros do comércio transaariano. A cidade possui monumentos, como a Tumba de Askia, que foram considerado Patrimônio da Humanidade pela UNESCO.

  
Mesquita de Djingareiber
Tombuctu foi fundada por volta do ano 1100. No século XIV, passou a fazer parte do Império do Mali, mas atingiu o seu apogeu sob o domínio do Império Songhay, tornando-se um paraíso para os estudiosos e capital espiritual da dinastia Askia entre 1493 e 1591. A cidade foi habitada por muçulmanos, cristãos e judeus durante centenas de anos, sempre considerada um centro de tolerância religiosa e racial. A cidade tem três grandes mesquitas que serviam como centros de estudos: a maior foi construída em barro em 1325, é conhecida por Djingareiber

Grande Mesquita de Djenné
Entre os séculos XI e XIII, Djenné foi um dos principais centros comerciais na África Ocidental, o terminal principal do comércio do sal, ouro e escravos da rota de comércio trans-saariano. No entanto, seu nome não exerceu a mesma impressão sobre os escritores árabes e europeus que Timbuktu. Alguns estudiosos acreditam que Djenné é a fonte da “Guinauha” termo árabe, que viria a ser traduzido pelos europeus para a Guiné. A sua Grande Mesquita, construída no século XI, foi um importante centro da vida religiosa.

O declínio do imperio ocorreu por dois importantes fatores. Primeiro, uma guerra civil de sucessão enfraqueceu o Império. Segundo, a noticia desta fragmentação interna conduziu o Sultão do Marrocos a despachar uma força de invasão à região, por volta de 1590. Lembre-se que o Marrocos na época havia triunfado contra os portugueses, mas esta guerra o havia empobrecido. Depois de uma marcha através do deserto do Saara, as forças do Marrocos capturaram, saquearam e destruíram as minas de sal dominadas pelo Imperio Songhai, movendo-se em seguida direção à capital do imperio, Gao. Em 1591, as forças do Songhai e do Marrocos se encontraram, sendo a derrota das forças de Songhai marcada por uma debandada de gado provocada por disparos de armas de fogo. O comandante das forças marroquinas saqueou Gao, Tombuctu e Jenné, destruindo o Songhai como uma potência regional.

As músicas exibidas no último programa traziam atrações musicais do Benim, Mali, Burkina Faso e Mauritânia. Quatro dos oito países que hoje ocupam a região do que outrora foi domínio do Imperio Songhai. Como disse acima, o podcast do programa já está disponível para ler, ouvir e baixar. É só dar um clique no link ao lado direito. Até de hoje a quize, como dizem os baianos. Enquanto isso, ficarei aqui obsevando sem do baobá sair!

domingo, 8 de abril de 2012

O Califado de Sokoto no Sábado de Aleluia

Esse final de semana foi muito interessante. A Sexta-Feira "santa" - regada a cerveja e vinho verde - foi marcada por um almoço atípico com caruru, vatapá e moqueca de peixe. "Atípico porque?" Alguns podem questionar. Esclareço que foi atípico por se tratar de Campinas-SP, local de estudos; e não Salvador-BA, terra natal deste que vos escreve. Hoje, o domingo de comer chocolate, equivocadamente denominado de Domingo de Páscoa, foi diet; pelo menos para mim! Contudo, na noite onde algures uns malhavam e outros queimavam o Judas - isso mesmo, no Sábado de Aleluia -, começava mais um programa Africa Livre, cujo tema não podia deixar de ser... o Califado de Sokoto! Não me venha novamente o leitor me dizer que nunca ouviu falar deste tema!


Sede do Sultanato de Sokoto em 1850, publicada na Revista Haper Weekly em 12/09/1857


O Califado de Sokoto foi um dos maiores impérios muçulmanos do Sael, região que fica na fronteira entre o Deserto do Saara e as zonas úmidas da floresta equatorial da África.
Usman Dan Fodio
O império emergiu no inicio do século XIX, em função das jihads (guerras santas) dos fulas (grupo étnico-liguístico), na região onde hoje é o norte da Nigéria. O Califado de Sokoto foi o centro da cultura, da política e da economia de boa parte do Sael, até que foi derrotado pelos exércitos franceses e britânicos entre o final do século XIX e início do XX. O grande Estado islâmico foi fundado na primeira década do século XIX por Usman Dan Fodio, que se tornou o primeiro sultão de Sokoto ou, na terminologia da época, o primeiro Sarkin musulmi (comandante dos fiéis). Embora Dan Fodio tenha se recusado a assumir o título de sultão, cada um de seus sucessores se auto-declararam Sultão de Sokoto.

Dan Fodio foi um líder religioso e professor fula que viveu na cidade-estado hauça de Gobir, até ser perseguido politicamente. Iniciou a sua jihad em 1804, depois que ele e seus seguidores foram expulsos da cidade. Em 1815, quando seus exércitos terminaram suas conquistas, o império religioso de Usman Dan Fodio abrangía um pouco mais do que é hoje o norte da Nigéria e dos Camarões, bem como pequenas partes ao sul do Níger e a oeste do Chade. Dan Fodio também influenciou as guerras santas de regiões próximas, cujo resultado foi a criação de estados islâmicos no Senegal, Mali e Chade.

O império continuou a ser um sucesso econômico durante todo século XIX, já que o território encontrava-se unificado. O nível de prosperidade era sem precedentes e a região manteve-se a salvo de ataques dos nômades do Saara. Enquanto o sultão de Sokoto era essencial para a prosperidade e unificação do califado, os emires (chefe de emirados) controlavam outras cidades – um exemplo importante fora a cidade de Kano, centro urbano de grande pujança comercial.

Cidade de Kano, 1851 - por Heinrich Barth

Por causa do Sábado de Aleluia, o DJ Bantu resolveu brindar os ouvintes e leitores com esta história muçulmana, só para variar. E sendo o Califado de Sokoto um Estado que ocupou o norte da Nigéria e dos Camarões bem como pequenas regiões do Niger e do Chade, Bantu trouxe para vocês Haruna Ishola, com sua apala yorubana; Mamar Kassey, com seu pop-jazz étnico; Maître Gazonga e seu afro-pop islâmico; e Manu Dibango, com um jazz afrobeat inconfundível.

Para aqueles que nunca leram os posts de domingo, cabe informar que estas mal traçadas linhas são uma resenha do programa de música, culturas e informações sobre as Áfricas, exibido todo sábado, às 19:00h, na Radio Muda. Avisamos também aos novos navegantes que é possível ouvir e baixar os programas em um site que hospeda todos os podcast de nossos programas: Na Lupa. Aproveitando o ensejo, divulgo ainda que o nosso terceiro programa Africa Livre #03 - O Reino do Congo já está disponível para ler, ouvir e baixar. E se você perdeu o programa do Sábado de Aleluia, não tem problema... estaremos publicando o podcast na próxima quarta-feira no Na Lupa. Gostou da nossa iniciativa? Envie um email para africalivre@yahoo.com.br com sugestões, críticas e congratulações.

Ficarei por aqui espreitando tudo que acontece, ouvindo, baixando e lendo dessa posição privilegiada que o baobá me oferece.

domingo, 1 de abril de 2012

O Reino do Congo contra Seu Jorge

Noite de sábado do dia 31 de março de 2012, Campinas. No bairro do Taquaral, começava o show ao vivo do Seu Jorge com expectativa de ser visto por cerca de dez mil pessoas. No campus da Unicamp, na Radio Muda, sozinho, o DJ Bantu começava mais um programa África Livre. Concorrência difícil, hein? Mas se você pensa que houve uma gota sequer de desmotivação, pode ter certeza que você está completamente enganado!

Audiencia concedida pelo manicongo aos portugueses
 juntamente com outros súditos
O programa do último sábado elegeu como tema o Reino do Congo. Poderoso Estado centro-africano que ocupou a região onde hoje se encontram os territórios de Cabinda, um enclave de Angola; a República do Congo; uma parte ocidental da República Democrática do Congo; e uma parte centro-sul do Gabão. Na sua máxima dimensão, o reino do Congo estendeu-se desde o oceano Atlântico a oeste, até ao rio Cuango a leste; e do rio Oguwé no atual Gabão ao norte, até o rio Kwanza ao sul. O Reino do Congo teve seu apogeu no século XVI, período que coincidiu com o aparecimento dos portugueses nesta região. Esse encontro marcou o começo do hediondo Tráfico Transatlântico de Escravos.

Rainha Nzinga
O império era governado pelo manicongo, título do imperador. Constituído por nove províncias e três reinos: Ngoy, Kakongo e Loango, sua área de influência estendia-se também aos estados limítrofes, tais como, Kassanje, Kissama, Ndongo e Matamba. Estes dois últimos estados foram, em diferentes momentos, sede do poder da Rainha Nzinga, famosa lideránça política que à sua forma, impediu os portugueses de conquistar totalmente a região.

O começo do fim do Reino do Congo ocorreu na famosa Batalha de Mbwila. Onde forças congolesas e portuguesas, ambas reforçadas por seus numerosos aliados, confrontaram-se estrepitosamente. Nesta batalha, o regente congeles Antonio I foi motalmente atingido, deixando vago o trono. Tal vacância do trono produziu guerras intestinas pelo sucessão que durariam décadas e que fragmentariam irremediavelmente o poderoso Estado. A Batalha de Mbwila ficou magistralmente retratada nos azuleijos da Igraja de Nossa Senhora de Nazaré, em Angola.

Batalha de Mbwila - Azuleijo da Igreja de N. Sª Nazaré em Luanda


Os dois países atualmente conhecidos pelo nome do antigo reino são a Republica do Congo, cuja capital é a cidade de Brazzaville e a Republica Democrática do Congo cuja capital é a cidade de Kinshasa. A Republica Deocrática do Congo é também conhecida por RDC, RD Congo e Congo-Kinshasa. O RDC já teve outros nomes como Estado Livre do Congo, na época em que era propriedade pessoal do Rei da Bélgica, Leopoldo I (1877-1908). Foi também denominado de Republica do Zaire, quando Mobutu Sese Seko impôs uma brutal ditatura ao páis entre 1971 e 1997. O fator fundamental para diferenciar os dois países reside no fato de que o RDC ou Congo-Kinshasa está localizado no centro do continente africano e é um dos maiores países do mundo, tanto em extensão territorial quanto em número populacional. Enquanto a Republica do Congo, ou Congo-Brazzaville é um pequeno país ao ao norte do Rio Congo.

República Democrática do Congo
Republica do Congo













Além dos músicos desses dois países, o programa exibiu artistas de Angola e Gabão. Ritmos como o zouk, o semba, o soukuos e a rumba foram transmitidos na última noite de sábado, em execussões magistrais de Oliver N'Goma, Les Bantous de la Capitale, Werrasom e Paulo Flores. Se você perdeu o programa, não se preocupe. Na próxima quarta-feira o podcast do Africa Livre - O Reino do Congo estará disponível no Na Lupa. Aliás, o programa Africa Livre #02 - O Grande Zimbabue já está disponível, para ouvir, baixar e ler. Continuamos recebendo sugestões, críticas e congratulações no africalivre@yahoo.com.br. Gostou da nossa iniciativa? Mande um email. Logo-logo você terá a oportunidade de ouvir mais um dos nosso podcasts.

Enquanto isso ficaremos por aqui olhando, lendo, ouvindo e baixando, de cima desta enorme árvore.